quinta-feira, 12 de abril de 2012

Capacidades unicamente humanas

Na percepção de si mesmo o homem pode distanciar-se dentro de si e imaginativamente colocar-se no lugar de outra pessoa. Em virtude do distanciamento interior, a expressão de sensações pode transformar-se na comunicação de conteúdos subjetivos. O homem pode falar com emoção, mas ele pode falar também sobre suas emoções. Estende a comunicabilidade a conteúdos intelectuais. Ele pensa e pode falar sobre seus pensamentos. O homem pode formular ideias e hipóteses de crescente complexidade intelectual e comunicá-las aos outros como propostas de futuras atividades.

Ao homem torna-se possível falar, refletir e perfazer toda espécie de abstrações mentais porque, com sua percepção consciente, ele consegue dissolver situações globais em conteúdos parciais. Isto está fora das possibilidades dos animais, que reagem a situações globais concretas. Destacados de um todo, os múltiplos componentes expressivos podem ser parcelados, codificados individualmente e podem ser recombinados para formarem outras totalidades. Os mesmo componentes individuais configuram novos conteúdos.

Cada língua encerra em si, em sua forma, uma atitude básica valorativa. Por isto é tão difícil traduzir. Nos vários modos de se enfocarem áreas de experiência humana e modos de participação social, nas muitas línguas, se refletem os acervos de muitas culturas. Na multiplicidade das culturas tem-se observado um aspecto caracteristicamente humano. (não a cultura, mas sim o pluralismo de culturas, das variadas possibilidades, é característico para a espécie humana. Em sua produção de culturas, o homem parece ter sido tão fértil quanto à própria natureza em sua produção de espécies.)

As línguas são experiência coletiva, no sentido de nelas a experiência e a criatividade individual se tornarem anônimas. No mesmo sentido, as línguas são criação cultural; constituem o ambiente humano que age sobre o indivíduo, o qual por sua vez atua sobre o ambiente. Por isso, ainda que a capacidade de falar e de simbolizar seja um potencial inato, o aprendizado da fala implica um aprendizado cultural; o potencial natural da língua, cada indivíduo o realiza num dado contexto cultural. Molda sua experiência pessoal nas relações culturais possíveis.

Livro: Criatividade e Processos de Criação - Fayga

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