quinta-feira, 12 de abril de 2012

Associações mentais

Provindo de áreas inconscientes do nosso ser, ou talvez pré-conscientes, as associações compõem a essência de nosso mundo imaginativo. São correspondências, conjeturas evocadas à base de semelhanças, ressonâncias íntimas de cada um de nós, com experiências anteriores e com todo um sentimento de vida.

Espontâneas, as associações afluem em nossa mente com uma velocidade extraordinária. Não se pode fazer um controle consciente delas. Às vezes, ao querer detê-las, elas já nos escaparam. Elas interligam ideias e sentimentos. As reconhecemos como nossas, como sendo de ordem pessoal. Por mais inesperadas que sejam, elas condizem com um padrão de comportamento específico nosso face a ocorrências que nos envolvam.

As associações nos levam para o mundo de fantasias. Geram nosso mundo de imaginação. Um mundo experimental, de um pensar e agir em hipóteses. O que dá amplitude à imaginação é essa nossa capacidade de perfazer uma série de atuações, associar objetos e eventos, poder manipulá-los, tudo mentalmente, sem a presença física.

O nosso mundo imaginavito será povoado por expectativas, aspirações, desejos, medos, por toda sorte de sentimentos e de 'prioridades' interiores. As prioridades interiores influem em nosso fazer e naquilo que 'queremos' criar.

Grande parte das associações liga-se à fala, pois muito do que imaginamos é verbal, ou torna-se verbal, traduz-se em nosso consciente por meio de palavras. Pensamos através da fala silenciosa. Pensa-se falando.

Cada um de nós pensa e imagina dentro das propostas de sua cultura. Quando se fala, recolhe-se desse acervo, língua e de propostas possíveis, uma determinada parte que corresponde à experiência particular vivida. É o que se quer transmitir e também o que se pode transmitir. A fala se articula, portanto, no uso concreto da língua, uso sempre parcial porque adequado à área vivencial do indivíduo.

Usamos palavras. Elas servem de mediador entre o nosso consciente e o mundo. Quando ditas, as coisas se tornam presentes para nós. Na língua, como nos processos de imaginação, dá-se um deslocamento do real físico do objeto para o real da ideia do objeto. A palavra evoca o objeto por meio de sua noção. Entretanto, qualquer noção já surge em nossa consciência carregada de certos conteúdos valorativos, pois, como todo o agir do homem, também o falar não é neutro, não se isenta de valores.

Dando nome as coisas, o homem as identifica e ao mesmo tempo generaliza. Capaz de perceber o que é semelhante nas diferenças e o que é diferente nas semelhanças. Exemplo, ele percebe a árvore, e na árvore uma árvore, uma de muitas árvores. Nas árvores ele vê uma planta, e nas plantas uma forma de vida. Assim o homem discrimina, compara, generaliza, subtrai, conceitua. Passa a compreender cada fenômeno como parte de um padrão de referências maior. Ser simbólico por excelência, ele concebe abrangências recíprocas: do único dentro do geral, do geral dentro do único.

Livro: Criatividade e Processos de Criação - Fayga

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