domingo, 20 de novembro de 2011

O enterro do "Não Consigo"

Imagem retirada da internet
"A turma do quinto ano da professora Donna se parecia com qualquer outra de antigamente. Os alunos se sentavam em cinco fileiras de seis carteiras, e a mesa da professora ficava de frente para as crianças. Em quase tudo era uma classe típica de ensino fundamental. Mas alguma coisa parecia diferente naquele dia em que estive lá pela primeira vez. Havia uma certa agitação oculta.

Donna era uma professora antiga naquela pequena cidade de Michigan e voluntária no desenvolvimento de um projeto social que eu idealizara. A idéia era transmitir aos alunos os meios de aumentar a confiança e a capacidade por meio da linguagem. Donna assistia às sessões de treinamento para implementar os conceitos apresentados. Eu me ocupava de fazer visitas às turmas e apoiar a implementação.

Sentei-me no fundo da sala e fiquei observando. Todos os alunos estavam ocupados, preenchendo uma folha. O  menino de dez anos perto de mim enchia a folha com uma série de "Não consigo".
Não consigo ultrapassar a linha de defesa no futebol.
Não consigo fazer contas de dividir com mais de três números.
Não consigo fazer Debbie gostar de mim.
Não consigo fazer dez flexões.
Não consigo comer apenas um biscoito.

Fiquei interessada e decidir verificar com a professora o que estava acontecendo. Ao me aproximar dela, vi que estava concentrada no que escrevia. Olhei por cima de seu ombro e li:
Não consigo que a mãe de John venha à escola para uma reunião com os professores.
Não consigo fazer minha filha colocar gasolina no carro.
Não consigo que Alan use palavras no lugar dos punhos.

Sem entender por que eles estavam fazendo aquilo, voltei ao meu lugar e fiquei observando. Os alunos escreveram por mais de uns dez minutos. A maioria encheu a folha. Alguns pediram uma segunda.

- Basta preencher uma folha - disse Donna, solicitando aos meninos que dobrassem os papéis ao meio e os colocassem numa caixa de sapatos vazia.

Donna também colocou o dela na caixa, depois a tampou e dirigiu-se à porta, seguindo pelo corredor. Os alunos a acompanharam e eu os segui.

No meio do corredor, a procissão parou. Donna entrou na sala do zelador e pegou uma pá. Com a caia de sapatos em uma das mãos e a pá na outra, a professora saiu do prédio e foi até o ponto extremo do pátio. Lá começou a cavar.

Era o enterro do 'Não consigo'! Quase todos os alunos quiseram cavar também. Quando o buraco chegou a mais ou menos um metro, a caixa dos 'Não consigo' foi colocada no fundo e coberta com terra.

Trinta crianças de dez e onze anos ficaram ali ao lado da cova. Nesse ponto, Donna anunciou:
- Meninos e meninas, deem as mãos e inclinem as cabeças.
Os alunos fizeram um círculo em volta da cova e, de cabeça baixa, esperaram que Donna falasse.

- Amigos, estamos aqui reunidos em honra da memória do 'Não consigo'. Enquanto esteve na Terra, ele tocou a vida de todos, a de alguns mais que a de outros. Seu nome, infelizmente, foi pronunciado em escolas, prefeituras, assembléias legislativas e até mesmo na Casa Branca. Providenciamos um local de descanso eterno para 'Não consigo', que deixou os irmão 'Eu consigo', 'Eu farei' e 'Eu vou seguir o caminho certo'. Eles não são tão conhecidos quanto seu parente famoso, nem tão fortes e poderosos. Talvez algum dia, com a ajuda de vocês, deixem sua marca no mundo e façam algo maior do que o parente morto. Que 'Não consigo' descanse em paz e que todos aqui presentes possam retomar suas vidas e seguir em frente. Amém.

Ouvindo o discurso, percebi que os alunos jamais esqueceriam aquele dia. A atividade era simbólica, uma metáfora para a vida. Escrever 'Não consigo', fazer o enterro, ouvir as palavras de despedida. Isso se devia à professora. E ela ainda não tinha terminado. Concluindo, levou os alunos de volta à sala, onde havia uma festa.

Celebraram a morte de 'Não consigo' com biscoitos, pipoca e suco. Como parte da comemoração, Dona fez uma lápide de papel pardo. No alto, escreveu 'Não consigo', e no meio, 'Descanse em paz'. A data foi escrita embaixo.

A lápide ficou pendurada na sala até o final do ano. Numa das raras ocasiões em que uma das crianças esquecia e falava 'Não consigo', Donna simplesmente apontava para a lápide. O aluno assim se lembrava de que 'Não consigo' estava morto e refazia a frase.

Eu não era um dos alunos de Donna, mas seu professor. Naquele dia porém, ela me ensinou uma importante lição. Hoje, anos depois, quando ouço a frase 'Não consigo', me lembro daquele funeral e recordo que 'Não consigo' está morto."

Autor: Chick Moorman
Livro: Histórias para aquecer o coração











sábado, 19 de novembro de 2011

Com pressa

Imagem retirada da web
"Eu estava com pressa.
Passei correndo pela sala de jantar usando meu melhor vestido, concentrada em me preparr para um encontro de negócios noturno. Gillian, minha filha de quatro anos, estava dançando ao som de sua música favorita, Cool do filme Amor, Sublime Amor.
Eu estava com pressa, à beira de chegar atrasada. No entanto, uma vozinha dentro de mim disse: Pare.
Então parei. Olhei para ela. Aproximei-me, peguei sua mão e a rodopiei. Minha filha de sete anos, Caitlin, entrou em nossa órbita e eu também a peguei. Nós três dançamos alucinadamente pela sala de jantar até chegarmos à sala de estar. Ríamos. Rodopiávamos. Será que os vizinhos podiam ver a loucura pela janela? Não tinha importância. A música chegou ao fim com um floreio dramático e nossa dança terminou com ela. Dei um tapinha em seus traseiros e mandei que fossem tomar banho.
Elas subiram as escadas, seus risinhos ecoando pelas paredes. Voltei aos meus afazeres. Enfiava papéis em uma pasta quando ouvi a mais nova falar:
- Caitlin, você não acha que a mamãe é a mais melhor de todas?
Congelei. Eu quase correra pela vida, perdendo aquele momento. Meu pensamento foi para os prêmios e os diplomas que cobriam as paredes de meu escritório. Nenhum prêmio, nenhuma realização que eu já alcançara poderiam se comparar a isto: Você não acha que a mamãe é a mais melhor?
Minha filha disse isso quando tinha quatro anos. Não espero que ela o diga com quatorze. Mas, aos quarenta, se ela se inclinar por cima de um caixote de pinho para dizer adeus ao recipiente descartado da minha alma, quero que o diga.
Mamãe não é a mais melhor?
Não combina com meu currículo. Mas quero isso gravado na minha lápide."

Autora: Gina Barret Schelsinger
Livro: Histórias para aquecer o coração