terça-feira, 3 de abril de 2012

Brincar


O prazer de brincar é descobrir segredos.


'Pensadores muito lógicos tem vergonha de brincar, mas a única coisa verdadeiramente vergonhosa é sua inabilidade de brincar.' Edward de Bono

As crianças apenas brincam de ser adultos; os adultos são adultos porque geralmente ignoram a criança que têm dentro de si; os velhos mais sábios  gostariam de ser crianças e quase nunca, adultos de novo; e os verdadeiros artistas, independentemente da idade, mantêm vivas e presentes as crianças que sempre foram, por isso, assim como as próprias crianças, são pessoas muito criativas.

Poetas, pintores, músicos... todos eles parecem intuir que o período da vida em que mais fazemos descobertas, inovações e aprendizagens fundamentais é durante a infância. Quando somos crianças, buscamos o movimento e não o repouso; o desequilíbrio e não o equilíbrio; experimentamos a instabilidade e o inconformismo... Até que chegamos à vida adulta nos apegando à ilusória segurança do que já é conhecido; instaurando de vez o medo de ousar, de experimentar, de errar.

Estudiosos sempre fizeram a relação entre a postura dos artistas e as atitudes das crianças. Rudolf Arnheim, autor de extenso ensaio sobre a intuição e o intelecto nas artes, comenta: 'Eu não consigo pensar em nenhum fato essencial na arte ou na criação artística, cuja semente não seja identificável no trabalho das crianças.' Freud, no início do século, já tratava a questão com uma pergunta: 'Não poderíamos dizer que toda criança, ao brincar, se comporta como um escritor criativo, no sentido de que cria um mundo próprio ou, melhor dizendo, rearranja as coisas do seu mundo de uma maneira nova que a agrada?' ... o escritor cria um mundo de fantasia que leva a sério e embora o separe da realidade, investe nele muita emoção.

Não só psicólogos, mas também reconhecidos artistas, têm demonstrado que aqueles adultos que mantiveram sua capacidade de fazer uso de várias habilidades infantis de percepção e expressão, pertencem ao grupo de pessoas talentosas que se tornaram grandes artistas. De fato, o que é para o adulto de um modo geral, uma tarefa chata ou tola demais, é para a criança, naturalmente, um imenso deleite. Mesmo em atividades artísticas, os adultos encaram os exercícios com demasiada seriedade, enquanto as crianças experimentam um prazer espontâneo e livre do compromisso de produzir uma obra de arte.

Para seguir o caminho da criança, devemos repensar o que a escola nos impôs, a falsa idéia de que só a seriedade e a rigidez disciplinar ensinam, e recuperar o que ela nos negou: o aprender brincado. Reconquistar esse comportamento na vida adulta é encarar os problemas como um jogo no qual só uma mente aberta e brincalhona descobre a inesperada resposta, a fortuita solução, a preciosa alternativa. Afinal, diz ainda Menna Barreto, todos nós somos criativos porque temos problemas e uma criança dentro de nós.

Enquanto se é criança, se brinca, se vive e se cria a vida inteira.

Livro: Os dez caminhos para a criatividade

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