terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Quem está educando seus filhos?


"Amar é dar a uma criança os meios para adquirir uma personalidade equilibrada. O que é esse equilibrio? Cada um tem o seu. Deve ser o suficiente para não nos afogarmos na primeira onda. Para isso não se exige nem muita instrução nem grandes bens materiais. Não se faz teorizando nem debatendo, mas dando regaço acolhedor, mão firme e ouvido atento.

Os buracos no chão de nosso passado não são terem nos dado apenas dois pares de tênis e duas calças, nenhum dos brinquedos eletrônicos modernos, nem aulas de balé ou idiomas. As falhas do terreno onde vamos cair, quebrando coração e cara, são provocadas por um ambiente hosil, pais despreparados ou INFELIZES. Mais danosos do que a pobreza, escola ruim, roupa modesta, casa simples, bairro suburbano ou excesso de trabalho. O solo firme serão as relações amorosas. Bom humor e carinho. Interesse.

Mas como ter isso se o cotidiano é sacrificado e nem nos comunicamos bem dentro de casa? Um luxo, amar, se muitas vezes não temos tmepo de ler o jornal, dinheiro para o fim do mês, alegria para começar o dia. Por isso digo que gerar e parir é grave responsabilidade.

A fragilidade do relacionamento familiar ou suas eventuais catástrofes, nossas inseguranças, o dilúvio de informações contraditórias, tornam cada vez mais difícil educar. Então delegamos isso à creche, à babá, ao psicólogo. Como temos pouco tempo, ninguém pode exigir que a gente ainda manifeste emoções e dialogue quando chegamos em casa exaustos de tentar manter a família com as exigências de consumo que ela tem  - ou nós pensamos estar obrigados a lhe dar. Até porque, se gerar e parir é natural, criar é inserir numa cultura que se sobrepõe ao natural. Pode ser repetitivo e tedioso, problemático. Passamos do extremo da educação rígida à deseducação simplista.

Conheci a educação pelo terror que imperava antigamente. Hoje caímos no outro extremo. A psicologia ajuda a entender e aliviar, não a formar a personalidade. Assim a escola, a babá, o psicólogo, não são lar nem família, professoras não são mães ou tias, e não se deveriam incubir esses terceiros, por mais dignos e respeitáveis que sejam, dos deveres do nosso CORAÇÃO.

Abrir um espaço de ternura no cotidiano apressado e dificil, eventualmente cruel. Deixar aberta a porta dos diálogos não convencionais, com hora marcada, mas no fluxo habitual do interesse e do carinho. Amor em família é uma arte, um malabarismo, por vezes um heroísmo. Essencial como o ar que respiramos.

Preparar alguém para viver não se faz com frases, mas convivendo. Preparar alguém para futuros relacionamentos, para ter um dia sua profissão, sua família, sua vida, se faz sendo humano, sendo terno, sendo generoso, sendo firme, sendo ético. Sendo gente."


Livro: Perdas e Ganhos
Autor: Lya Luft

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