quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Encantos da velhice


“Algumas pessoas parecem tombar subitamente da juventude impensada para a velhice ressentida. Foram apanhados desprevenidos. Estavam desatentos. Triste maneira de percorrer isso que é afinal o milagre da existência.

Para quem só pensa nos desencantos da maturidade, eu falo no encanto. Para quem só sabe da resignação da velhice, eu lembro a possível sabedoria da velhice. Perder nos deixa vulneráveis, com medo de que isso se repita. De que o amado nos esqueça, de que o outro morra, de que a graça se apague, a festa acabe. Mas se escutarmos bem nosso interior, ali está a voz persistente dos momentos alegres e das belas experiências dizendo-nos que viver ainda é possível.

Questiono se ter 80 anos ou mais será realmente uma condenação ou se pode ser um coroamento de uma vida. Generosa, de conquistas, de perdas mas igualmente de elaboração e acúmulo. Vivida com gosto e dor, com afetos bons e outros menos. O prato luminoso do positivo mais pesado do que o das coisas escuras.”

Livro: Perdas e Ganhos
Autor: Lya Luft  

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