segunda-feira, 28 de março de 2011

Colonização na visão de um índio

“Vocês não diriam país em desenvolvimento se não acreditassem que nos deixaram um futuro no qual pudéssemos nos desenvolver. 

Na realidade, o que vocês nos deixaram mesmo foram seus objetos abandonados. Quando vocês pensam em meu continente, talvez pensem na vida selvagem – nos leões e nos macacos. Quando penso nele, penso em todas as máquinas quebradas, nas coisas gastas, estragadas, despedaçadas e rachadas. Sim, nós temos leões. Eles estão dormindo nos tetos de contêineres enferrujados. E os macacos? Estão brincando em cima de uma montanha de computadores velhos que vocês mandaram para ajudar em nossa escola – a escola que não tem eletricidade. 

Do meu país vocês tiraram o futuro e para o meu país vocês mandaram os objetos de seu passado. Não temos a semente, temos a casca... esse foi o lugar onde cresci, onde até os missionários fecharam com tábuas as portas e janelas de sua missão e nos deixaram com os livros santos, que não valiam a despesa de ser despachados de volta para seu país. 

Em nossa aldeia, na única Bíblia existente faltavam todas as páginas depois do versículo 46 do capítulo 27 de Mateus, de modo que a conclusão de nossa religião, o máximo que qualquer um de nós sabia era: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes? E era assim que vivíamos, felizes e sem esperança. 

Eu era muito nova então, e não sentia falta de ter um futuro porque não sabia que tinha direito a um.”

Esse pequeno trecho não se trata de colonização, muito menos foi escrito por um índio no Brasil. Dá para perceber por causa das máquinas e computadores? Mas e o restante? A semelhança é tanta que poderia ter sido. Essa história se passa na África, contada por uma nigeriana refugiada durante a gerra pelo petróleo em seu país.

Livro: Pequena Abelha
Autor: Chris Cleave

Nenhum comentário: