“Há poucas décadas alteraram-se nossos prazos, e os conceitos sobre juventude, maturidade e velhice. Passamos a viver mais. Nem sempre a viver melhor. Minhas avós, muito mais jovens do que sou agora, eram velhas: lentas e vagamente reumáticas, roupa escura, cabelo grisalho, óculos na ponta do nariz, fazendo doces ou tricô.
Hoje as avós dirigem seu carro, viajam, jantam fora com amigas, namoram, usam computador, e de modo geral parecem muito mais felizes do que as damas de antigamente. Mas por outro lado, mais do que nunca impera o repúdio à velhice.
Somos seres humanos completos em qualquer fase, ou melhor, na completude daquela fase. Custa-nos acreditar nisso na velhice, como na adolescência era difícil sermos confiantes nas nossas escolhas quanto ao futuro.
Porém, numa sociedade em que sucesso e felicidade se reduzem a dinheiro, aparência e sexo, se somos maduros ou velhos estamos descartados. Cada dia será o dia do desencanto. Em lugar de viver estaremos sendo consumidos. Em vez de conquistar estaremos sendo devorados pelos nossos fantasmas – na medida em que permitirmos isso.”
Livro: Perdas e Ganhos
Autor: Lya Luft
Autor: Lya Luft
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