"A solidão dos homens me pareceu mais árida do que a das mulheres, que têm outros tipos de laços afetivos: família, amigos, até mesmo a sua casa. Entre o papo superficial com os amigos e o receio de decepcionar ou assustar as mulheres com sua própria fragilidade, com suas preocupações mais íntimas ou seus dramas, os homens silenciam.
Com suas mulheres muitas vezes queixoosas, obsessivamente encerradas na sua maternidade, consumindo-se nos cuidados domésticos ou em uma excessiva futilidade, pensando o tempo todo no seu trabalho fora de casa, resta-lhes o papel de provedor. A necessidade de ter alguém com quem dialogar, com quem realmente se abrir, era quase uma constante em seus comentários: ´Com meus amigos, falo de política, futebol... com a mulher, não quero me abrir porque ela logo fica nervosa, e me cobra mil coisas.. e aos filhos, ah, esses eu tenho que proteger´.
Quase sempre há coisas a melhorar, e quase sempre podem ser melhoradas. Não é proíbido questionar, esclarecer, explicar. Mais fácil que mudar é a resignação: morrer antecipadamente. Velhos casais ressentidos ou jovens casais solitários dentro de casa são terrivelmente tirste e comuns.
´Quando estou deprimido, levantar da cama - e não me arrastar pela casa - já é um ato heróico´, comentou alguém. Viver é um heroísmo, viver bem um longo amor é mais heróico ainda. Viver sozinho se meu amor fracassou é uma batalha por mera sobrevivência.
Um amigo disse no aniversário de sua mulher uma das coisas mais bonitas que já ouvi: ´todos os dias de nosso casamento - 40 anos - eu te escolhi de novo como minha mulher´. O casal mais feliz haveria de ser aquele que não desiste de correr atrás do sonho de que, apesar dos pesares, a gente a cada dia se olharia como da primeira vez, se enxergaria - e se escolheria novamente. "
Livro: Perdas e Ganhos
Autor: Lya Luft
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