sábado, 30 de abril de 2011

Começando a aprender


"- O truque, Chico, está em que tentamos ultrapassar as nossas limitações progressiva e pacientemente.
- Eu não... não morri?
- O que conseguiste fazer foi modificar teu nível de consciencialização de modo assaz brusco. Agora tens a liberdade para escolher: ou ficar aqui e aprender a este nível - que, a propósito, é mais evoluído do que o que deixaste - ou regressar e continuar trabalhando com o Bando.
- Quero voltar para o Bando, é claro. Mal comecei a treinar o novo grupo!
- Lembras-te do que dissemos acerca de o nosso corpo não ser mais do que o próprio pensamento...?
- Por que será - interrogou-se Fernão - que a coisa mais difícil no mundo é convencer um pássaro de que é livre e de que pode prová-lo a si próprio se se dedicar a treinar um pouco?"

"- Fernão, lembras-te do que disseste, acerca de amar o Bando o bastante para voltar a ele e ajudá-lo a aprender? Não compreendo como consegues amar um punhado de pássaros que acabam de tentar te matar.
- Oh Chico! Não é isso que amas! Tu não amas o ódio e o inferno, é claro. Tens de treinar até veres a verdadeira gaivota, o que há de bom em cada uma delas, e ajudá-las a ver isso nelas próprias. Para mim, o amor é isso. Lembro-me de um jovem pássaro refilão chamado Francisco Coutinho Gaivota. Acabava de ser Banido; estava pronto a lutar com o Bando até a morte e começou por construir o seu próprio inferno. E aqui está ele hoje, a construir o seu próprio paraíso e a guiar todo o Bando nessa direção.
- Eu, a guiá-los?
- Tu já não precisas de mim. Precisas continuar descobrindo pouco a pouco, todos os dias, o verdadeiro e ilimitado Francisco Gaivota. É ele o teu melhor instrutor. Precisas de o compreender e de o treinar. .. Não os deixes espalhar boatos a meu respeito, fazerem de mim um deus.... sumiu.
- Fernão!
- Pobre Chico! Náo creias no que os teus olhos te dizem. Tudo o que mostram é limitação. Olha com o entendimento, descobre o que já sabes e verás como voar."


"... primeira lição ao grupo.
- Para começar - disse Francisco pesadamente - têm de compreender que uma gaivota é uma ilimitada idéia de liberdade, uma imagem da Grande Gaivota, e todo o vosso corpo, da ponta de uma asa à outra, não é mais do que o vosso próprio pensamento... Compreendeu de súbito que o seu amigo não fora mais divino do que ele próprio. Não há limites Fernão!? pensou.
Embora tentasse mostrar-se severo com os seus alunos, Francisco Gaivota viu-os de repente como eram realmente, e mais do que gostou, amou o que viu. Não há limites, Fernão? pensou , e sorriu. A sua corrida para a aprendizagem acabava de começar."

Livro: Fernão Capelo Gaivota
Autor: Jonathan Seagull, Richard Bach

Nenhum comentário: